quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Ciência da religião enquanto disciplina acadêmica


            Nesse texto trabalharei as Ciências da Religião enquanto área de conhecimento e possíveis discussões a respeito de sua existência, considerando a pergunta: à que serve os estudos religiosos nos dias de hoje? Objetiva com esse escrito ser coerente com as recentes discussões sobre o papel das religiões na sociedade contemporânea.
            Ver o crescimento de uma área que se preocupa em estudar as religiões nos dias de hoje pode até parecer um contrassenso com aquilo que fora profetizado ao longo de todo o período moderno, de que a religião teria fatalmente seu fim e que isso era apenas uma questão de tempo. Pensadores como Karl Marx, Freud dentre outros caminham nessa mesma ideia.
            Atualmente essa imagem cada vez mais é questionada, pois a religião tem um crescimento substancial na organização de sentidos da vida das pessoas e também na estruturação de aspectos sociais. E, com isso questiona-se o juízo outrora propagado de que a religião estava ligada invariavelmente à alienação.
            Max Weber foi um dos autores que trabalhou longamente sobre o papel da religião na modernidade, para ele as estruturas sociais chegariam a tal ponto de racionalidade que não haveria espaço para a explicação da vida pela religião. A dessacralização do mundo, na interpretação desse autor, era caminho sem volta. Embora ele considere que outrora a religião tivesse um papel importante para a sociedade de modo geral. Weber não foge ao paradigma de seu tempo de que crê cabalmente no fim da religião e a supremacia do mundo desencantado, explicado pela racionalidade científica.
            A ética em Weber não tem uma questão moral, o que atualmente é atribuído como propriedade da religião, mas tem a ver com um ethos, ou seja, um modo de vida que tem no cotidiano uma influência no comportamento das pessoas.
            Sendo assim, ele consegue aplicar aspectos religiosos nas questões cotidianas. Em seu livro mais famoso “Ética protestante e o espírito do capitalismo” encontra-se como o asceticismo protestante foi capaz de contribuir para a estruturação da sociedade capitalista. Porém, no mesmo livro ele conclui que o capitalismo pode sobreviver sozinho sem a contribuição protestante.
Esse autor fala de ética cristã que refere-se ao cotidiano. Como foi possível o surgimento dessa ética? Quem contribuiu para ela? Para Weber foi Paulo quem a criou e a desenvolveu. A partir daí já podemos considerar que o papel das religiões não estão somente no âmbito individual, mas também em influências sociais.
            Os estudos a respeito da religião não se resumem às questões teológicas, como comumente se observa, mas também em temas ligados à psicologia, História, Filosofia e outras disciplinas acadêmicas.
            As reflexões que são apresentadas aqui também dizem respeito à métodos e a forma de abordagem das ciências da religião em relação ao seu objeto. Exercício que basicamente todo pesquisador deve incorrer para delimitar sua pesquisa e não sofrer o risco de ser interpretado equivocadamente.
            A questão e pergunta se a religião detêm uma essência própria é a razão de muitos se voltarem à fenomenologia. Essa questão da essencialidade da religião diz respeito a duas coisas. A primeira é sobre a autonomia da religião em realizar seu trabalho sem sofrer ataques de outas áreas e a segunda diz respeito a ideia de que as religiões tem um estrutura essencial, comum a toda e qualquer religião.
            Somente a temática da essencialidade da religião já abriria campo para longos debates, o que não nos interessa nesse momento, mas é bom ressaltar esse ponto para mostrar a complexidade que os estudos das religiões suscitam em sua área de reflexão. Fazer, portanto, estudos de religião não está no nível da curiosidade e sim em real interesse de compreender como está estruturada a sociedade que não deixa, e ao menos onde se sabe, não deixará de ter aspectos religiosos em sua estruturação social.
            Entra-se no debate também a preocupação de situar as pessoas licenciadas para o Ensino Religioso ressaltando que o mesmo terá a função de sintetizar o conteúdo apreendido pelas ciências da religião.
            Durante anos o ensino religioso tinha o caráter catequético, essa linha vem da época em que a cristandade gozava de hegemonia social.
            Nos dias de hoje, portanto, os estudos a respeito de religião não servem para converter o estudante a uma doutrina, mas sim para compreender as diversidades sociais e culturais existentes no mundo, podendo auxiliar no diálogo entre os diferente pensamentos e visões de mundo.
            Não se tem mais a ideia de que a religião é parte do passado e não pode dar contribuições a estruturação social. O que não se pode reafirmar é que em nome de uma doutrina ou pensamento religioso o Estado deva forçar as pessoas a seguirem uma lógica de pensamento. Da mesma forma que se valoriza a diversidade cultural valoriza-se também o direito de escolha dos indivíduos em seguirem o caminho que acharem melhor.
            O ensino de religião nas escolas públicas e privadas devem estar em sintonia com essa forma de pensamento. Assim, um futuro novo será construído com forte contribuição da Ciência das Religiões.
            Trabalhei nessa redação a questão da religião nos dias de hoje, qual sua importância e a que ela serve? O texto incorreu sobre a forma como ela fora observada por pensadores clássicos na modernidade, mas que atualmente não tem a mesma conotação que outrora tivera.
            Concluímos, por fim, que os estudos de religião são importantes para valorização da diversidade religiosa e cultural e não para a pregação de uma doutrina cristalizada pelo tempo ou pelas relações de poder.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Onde está Deus no sofrimento dos justos?


          O livro de Jó é paradigmático ao expressar um pensamento e uma teologia, na resposta a pergunta: Porque sofrem os justos?
            Sua história é clara ao mostrar que a perfeição de um homem não o livrou do sofrimento e da dor.        
            As dores na vida de Jó foram as piores possíveis, sofrendo problemas financeiros, familiares, saúde, psicológico dentre outros.
            A visão que as pessoas tinham de Deus no tempo de Jó era a da recompensação, ou seja, se fossem bons Deus daria recompensas boas e se fossem maus a punição viria imediatamente. Essa ideia a respeito de Deus consegue ser eficiente até certo momento, portanto, mostra-se em dificuldades para explicar porque sofrem os justos. No capítulo 2 e versículo 3 do livro de Jó o próprio Deus da testemunho de que Jó sofre sem justa causa.
            A visão que temos é que Deus é todo-poderoso e bom, e que por ser onipotente e deseja fazer o bem quer ver os seres humanos felizes e sem sofrimento. A questão é que por vezes encontramos essas pessoas que são boas e fieis sofrendo, qual a coerência portanto entre a visão que temos de Deus e a triste realidade humana?
            Dizemos no íntimo que são hipócrita os justos que sofrem porque a visão que temos do santo não nos possibilita dizer que Ele aceite o sofrimento dos justos até porque isso seria injustiça, mas, o certo é que pessoas justas, na medida da possibilidade humana estão sofrendo.
            E a melhor resposta para essa incógnita está no livro de Jó. Este livro mostra que esse homem era justo a tal ponto de que o próprio Deus dera testemunho de sua vida. Mesmo assim ele sofreu.
            Ao olhar aquela criança de três anos que foi encontrada morta na praia ao tentar fugir do terrorismo com seus pais nos perguntamos o que essa criança fez para que tivesse tal fim? Aqueles que querem preservar a ideia de que Deus é responsável por tudo diz que são os pecados dos pais, muçulmanos, que caíram sobre o corpo daquela criança.
            Esquecemos que o Deus apresentado por Jesus diz que cada um é responsável pelo seu pecado e portanto os filhos não podem ser culpados pelos pecados dos pais.
            Mas a pergunta permanece, porque sofrem os justos e os inocentes?
            No versículo 7 do capítulo 42 Deus se volta aos amigos de Jó que o haviam acusado Jó de pecado para defender a imagem de Deus, e Deus fala veementemente contra ele e seus amigos. Afirmando que sua ira se acendeu sobre o Temanita por não falar de Deus o que era reto.
Da mesma forma devemos ter cuidado quando em nome de uma teologia acusar um irmão ou julgá-lo. Deus está muito além da imagem que temos dEle.
            Apesar disso, a pergunta permanece: onde está Deus no sofrimento dos justos?
            Pela revelação de Cristo, Deus está junto com aqueles que sofrem. Se você for o causador da injustiça, certamente Deus está contra você. Se o cristão for o causador da injustiça Deus estará ele, independentemente da placa denominacional.
            Deus está junto com a vítima do estupro, não importa que seja cristã, muçulmana, umbandista. Deus está com os desapropriados da terra, não importam que sejam petistas americanas ou africanas. Deus luta em favor daqueles que são injustiçados.
            O melhor que fazemos é nos calar diante do incompreendido, pois sabemos mais de Deus no silêncio do que na argumentação.