Nesse texto trabalharei as Ciências
da Religião enquanto área de conhecimento e possíveis discussões a respeito de
sua existência, considerando a pergunta: à que serve os estudos religiosos nos
dias de hoje? Objetiva com esse escrito ser coerente com as recentes discussões
sobre o papel das religiões na sociedade contemporânea.
Ver o crescimento de uma área que se
preocupa em estudar as religiões nos dias de hoje pode até parecer um
contrassenso com aquilo que fora profetizado ao longo de todo o período
moderno, de que a religião teria fatalmente seu fim e que isso era apenas uma
questão de tempo. Pensadores como Karl Marx, Freud dentre outros caminham nessa
mesma ideia.
Atualmente essa imagem cada vez mais
é questionada, pois a religião tem um crescimento substancial na organização de
sentidos da vida das pessoas e também na estruturação de aspectos sociais. E,
com isso questiona-se o juízo outrora propagado de que a religião estava ligada
invariavelmente à alienação.
Max Weber foi um dos autores que
trabalhou longamente sobre o papel da religião na modernidade, para ele as
estruturas sociais chegariam a tal ponto de racionalidade que não haveria
espaço para a explicação da vida pela religião. A dessacralização do mundo, na
interpretação desse autor, era caminho sem volta. Embora ele considere que
outrora a religião tivesse um papel importante para a sociedade de modo geral. Weber
não foge ao paradigma de seu tempo de que crê cabalmente no fim da religião e a
supremacia do mundo desencantado, explicado pela racionalidade científica.
A ética em Weber não tem uma questão
moral, o que atualmente é atribuído como propriedade da religião, mas tem a ver
com um ethos, ou seja, um modo de
vida que tem no cotidiano uma influência no comportamento das pessoas.
Sendo assim, ele consegue aplicar
aspectos religiosos nas questões cotidianas. Em seu livro mais famoso “Ética
protestante e o espírito do capitalismo” encontra-se como o asceticismo
protestante foi capaz de contribuir para a estruturação da sociedade capitalista.
Porém, no mesmo livro ele conclui que o capitalismo pode sobreviver sozinho sem
a contribuição protestante.
Esse
autor fala de ética cristã que refere-se ao cotidiano. Como foi possível o
surgimento dessa ética? Quem contribuiu para ela? Para Weber foi Paulo quem a criou
e a desenvolveu. A partir daí já podemos considerar que o papel das religiões
não estão somente no âmbito individual, mas também em influências sociais.
Os estudos a respeito da religião
não se resumem às questões teológicas, como comumente se observa, mas também em
temas ligados à psicologia, História, Filosofia e outras disciplinas
acadêmicas.
As reflexões que são apresentadas
aqui também dizem respeito à métodos e a forma de abordagem das ciências da
religião em relação ao seu objeto. Exercício que basicamente todo pesquisador
deve incorrer para delimitar sua pesquisa e não sofrer o risco de ser
interpretado equivocadamente.
A questão e pergunta se a religião
detêm uma essência própria é a razão de muitos se voltarem à fenomenologia.
Essa questão da essencialidade da religião diz respeito a duas coisas. A
primeira é sobre a autonomia da religião em realizar seu trabalho sem sofrer
ataques de outas áreas e a segunda diz respeito a ideia de que as religiões tem
um estrutura essencial, comum a toda e qualquer religião.
Somente a temática da essencialidade
da religião já abriria campo para longos debates, o que não nos interessa nesse
momento, mas é bom ressaltar esse ponto para mostrar a complexidade que os
estudos das religiões suscitam em sua área de reflexão. Fazer, portanto, estudos
de religião não está no nível da curiosidade e sim em real interesse de
compreender como está estruturada a sociedade que não deixa, e ao menos onde se
sabe, não deixará de ter aspectos religiosos em sua estruturação social.
Entra-se no debate também a preocupação
de situar as pessoas licenciadas para o Ensino Religioso ressaltando que o
mesmo terá a função de sintetizar o conteúdo apreendido pelas ciências da
religião.
Durante anos o ensino religioso
tinha o caráter catequético, essa linha vem da época em que a cristandade
gozava de hegemonia social.
Nos dias de hoje, portanto, os
estudos a respeito de religião não servem para converter o estudante a uma
doutrina, mas sim para compreender as diversidades sociais e culturais
existentes no mundo, podendo auxiliar no diálogo entre os diferente pensamentos
e visões de mundo.
Não se tem mais a ideia de que a
religião é parte do passado e não pode dar contribuições a estruturação social.
O que não se pode reafirmar é que em nome de uma doutrina ou pensamento
religioso o Estado deva forçar as pessoas a seguirem uma lógica de pensamento.
Da mesma forma que se valoriza a diversidade cultural valoriza-se também o
direito de escolha dos indivíduos em seguirem o caminho que acharem melhor.
O ensino de religião nas escolas
públicas e privadas devem estar em sintonia com essa forma de pensamento.
Assim, um futuro novo será construído com forte contribuição da Ciência das
Religiões.
Trabalhei nessa redação a questão da
religião nos dias de hoje, qual sua importância e a que ela serve? O texto
incorreu sobre a forma como ela fora observada por pensadores clássicos na
modernidade, mas que atualmente não tem a mesma conotação que outrora tivera.
Concluímos, por fim, que os estudos
de religião são importantes para valorização da diversidade religiosa e
cultural e não para a pregação de uma doutrina cristalizada pelo tempo ou pelas
relações de poder.
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