segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A teologia nos entre caminhos da fé e razão



Ao se discutir, nos dias de hoje, sobre uma área de conhecimento é praticamente impossível excluir os critérios da razão científica que ganharam formas e contornos após o renascimento. Atualmente vive-se debaixo dos paradigmas científicos que afirmam os valores da modernidade no que diz respeito ao conhecimento. Esses critérios dialogam-se em absoluto com a teologia, ora em sua afirmação e ora em sua negação, ao menos essa é a impressão que se tem quando olha-se mais detidamente àquela teologia que procura ser confessional e defensora de dogmas.
Em muitos casos pretende-se, com o saber teológico, defender a religião e para isso se apropriam de ferramentas científicas que cooperam com esses fins. Esse jogo, do qual esboçamos aqui diz respeito a duas questões simples: a primeira devido a teologia não ser mais hegemônica como era outrora tendo a última palavra nos quesitos da verdade, e a segunda por, a princípio, tratar de temas que são metafísicos a priori, resultando assim em dicotomias de pensamentos. Outra questão, mais ligada a teologia cristã é que seu objeto de estudo (Deus) não pode ser provado por definição – no momento em que prova-lo deixa de ser Deus – o que torna-se um problema para a teologia se seu desejo é mostrar por critérios científicos Sua existência.
Como entender, portanto, uma área de conhecimento que carece da fé como motivadora de ação e que tem relevância social em período que o cientificismo torna-se critério último? Creio que encontramos aqui em um empasse para a teologia nos tempos hodiernos entre a fé e a razão.
A teologia sistemática dialoga com essa tendência em muitos de seus pontos, pois é seduzida a explicar Deus e dogmas através de critérios científicos ou filosóficos mas que comumente são aceitos por simples atos de fé. O empasse em que a teologia se encontra pode ser problemática em seu pressuposto inicial que é dar subsídios aos crentes para suas peregrinações diante do sagrado.
Na verdade, há um medo velado por parte de alguns teólogos em não terem o reconhecimento social de seu trabalho intelectual por abordarem um objeto de estudo que é indefinível a priori. O que está em jogo, portanto, acaba não sendo os resultados das reflexões tidas com o pensamento teológico e sim o status que o teólogo adquire com seu trabalho nos circuitos acadêmicos.
            O oposto também pode ser um problema: a afirmação de que a teologia é apenas revelação e não pode ser abordada por outras ciências abre margens para arbitrariedade do teólogo em suas afirmações doutrinárias. A história do cristianismo está cheia desses exemplos. Ou seja, em nome de uma revelação, poderes políticos e eclesiásticos são reafirmados e por vezes o povo subjugado.
            Nos anos 60 no Brasil e América Latina uma nova forma de se fazer teologia procurou dar respostas a esses paradoxos argumentativos, mas que não foi muito bem aceita em meios mais ortodoxos da igreja, refiro-me à Teologia Latino-Americana da Libertação nos setores católicos e a teologia da Missão Integral nos meios protestantes.
O Padre Uruguaio Juan Luiz Segundo foi um desses pensadores de peso que conseguiu unir o que de melhor a teologia pode oferecer ao povo com a excelência do pensamento reflexivo. Seu trabalho pode ser uma ponta de esperança e exemplo para aqueles que desejam fazer teologia a fim de afirmar crenças e religiosidades na completude da humanidade no diálogo entre fé e razão.
            Outra questão que a teologia deve enfrentar diz respeito aos fundamentalismos e intolerância religiosa que muitas de suas verdades podem ocasionar nos fiéis. De um lado encontram-se certezas que devem ser aceitas para que a vida tenha sentido e do outro está o diferente que pensa completamente o oposto de nós e tem uma teologia e modo de vida que nega por contraposição de termos o eu. Ser teólogo numa situação dessas sem entrar em crises existências e não negando a existência do outro envolve auto grau de maturidade, tanto intelectual quanto de fé.
O pressuposto para se fazer teologia acaba sendo adquirir o direito de (em nome de Deus) reger influência sobre o modo de vida e comportamento das outras pessoas e essa forma de pensar impede que outras tradições religiosas tenham espaço. Sendo esse um dos pilares das guerras santas, tanto do passado quanto dos dias de hoje.
            Nessa redação não pretendo chegar a definições pontuais, conforme já puderam ver, mas tive por objetivo inicial mostrar os atuais desafios que os teólogos, líderes religiosos e fieis têm diante da contemporaneidade.
            Conhecer a historiografia da teologia e seus possíveis caminhos dão bases para que os novos teólogos e fiéis conheçam mais da sua fé e adquiram essa maturidade de forma mais rápida e com melhor qualidade, creio que Schultz faz isso muito bem em sua tese de doutorado que apresenta a nebulosa religiosa brasileira presente no atual protestantismo. Seu texto é um exemplo claro de que é possível fazer teologia sem se deixar seduzir e enganar por concepções prévias que atrapalham os resultados desejados nos estudos teológicos.
            É notável sua teoria de que Deus está presente e o diabo está no meio. Essa ideia sintetiza muito bem o que ele chama de nebulosa religiosa. Não descartando a ideia de que esse mal que está presente tem causas materiais, o religioso apenas não sabe expressar de forma didática, por isso, a relevância dos teólogos que colocam em palavras o que é sensitivo no cotidiano.

            Concluo, por fim considerando que os caminhos para a teologia na contemporaneidade estão abertos ela pode encontra-se pode ser de grande valia as pessoas se transitar bem nas argumentações científicas sem esquecer o cotidiano daquele que crê.

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