Ao
se discutir, nos dias de hoje, sobre uma área de conhecimento é praticamente
impossível excluir os critérios da razão científica que ganharam formas e
contornos após o renascimento. Atualmente vive-se debaixo dos paradigmas
científicos que afirmam os valores da modernidade no que diz respeito ao
conhecimento. Esses critérios dialogam-se em absoluto com a teologia, ora em
sua afirmação e ora em sua negação, ao menos essa é a impressão que se tem
quando olha-se mais detidamente àquela teologia que procura ser confessional e
defensora de dogmas.
Em
muitos casos pretende-se, com o saber teológico, defender a religião e para
isso se apropriam de ferramentas científicas que cooperam com esses fins. Esse
jogo, do qual esboçamos aqui diz respeito a duas questões simples: a primeira
devido a teologia não ser mais hegemônica como era outrora tendo a última
palavra nos quesitos da verdade, e a segunda por, a princípio, tratar de temas
que são metafísicos a priori, resultando assim em dicotomias de pensamentos.
Outra questão, mais ligada a teologia cristã é que seu objeto de estudo (Deus) não
pode ser provado por definição – no momento em que prova-lo deixa de ser Deus –
o que torna-se um problema para a teologia se seu desejo é mostrar por
critérios científicos Sua existência.
Como
entender, portanto, uma área de conhecimento que carece da fé como motivadora
de ação e que tem relevância social em período que o cientificismo torna-se
critério último? Creio que encontramos aqui em um empasse para a teologia nos
tempos hodiernos entre a fé e a razão.
A
teologia sistemática dialoga com essa tendência em muitos de seus pontos, pois
é seduzida a explicar Deus e dogmas através de critérios científicos ou
filosóficos mas que comumente são aceitos por simples atos de fé. O empasse em
que a teologia se encontra pode ser problemática em seu pressuposto inicial que
é dar subsídios aos crentes para suas peregrinações diante do sagrado.
Na
verdade, há um medo velado por parte de alguns teólogos em não terem o
reconhecimento social de seu trabalho intelectual por abordarem um objeto de
estudo que é indefinível a priori. O que está em jogo, portanto, acaba não
sendo os resultados das reflexões tidas com o pensamento teológico e sim o
status que o teólogo adquire com seu trabalho nos circuitos acadêmicos.
O oposto também pode ser um
problema: a afirmação de que a teologia é apenas revelação e não pode ser abordada
por outras ciências abre margens para arbitrariedade do teólogo em suas
afirmações doutrinárias. A história do cristianismo está cheia desses exemplos.
Ou seja, em nome de uma revelação, poderes políticos e eclesiásticos são
reafirmados e por vezes o povo subjugado.
Nos anos 60 no Brasil e América
Latina uma nova forma de se fazer teologia procurou dar respostas a esses
paradoxos argumentativos, mas que não foi muito bem aceita em meios mais ortodoxos
da igreja, refiro-me à Teologia Latino-Americana da Libertação nos setores católicos
e a teologia da Missão Integral nos meios protestantes.
O
Padre Uruguaio Juan Luiz Segundo foi um desses pensadores de peso que conseguiu
unir o que de melhor a teologia pode oferecer ao povo com a excelência do pensamento
reflexivo. Seu trabalho pode ser uma ponta de esperança e exemplo para aqueles
que desejam fazer teologia a fim de afirmar crenças e religiosidades na
completude da humanidade no diálogo entre fé e razão.
Outra questão que a teologia deve
enfrentar diz respeito aos fundamentalismos e intolerância religiosa que muitas
de suas verdades podem ocasionar nos fiéis. De um lado encontram-se certezas
que devem ser aceitas para que a vida tenha sentido e do outro está o diferente
que pensa completamente o oposto de nós e tem uma teologia e modo de vida que
nega por contraposição de termos o eu. Ser teólogo numa situação dessas sem
entrar em crises existências e não negando a existência do outro envolve auto
grau de maturidade, tanto intelectual quanto de fé.
O
pressuposto para se fazer teologia acaba sendo adquirir o direito de (em nome
de Deus) reger influência sobre o modo de vida e comportamento das outras
pessoas e essa forma de pensar impede que outras tradições religiosas tenham
espaço. Sendo esse um dos pilares das guerras santas, tanto do passado quanto
dos dias de hoje.
Nessa redação não pretendo chegar a
definições pontuais, conforme já puderam ver, mas tive por objetivo inicial
mostrar os atuais desafios que os teólogos, líderes religiosos e fieis têm
diante da contemporaneidade.
Conhecer a historiografia da
teologia e seus possíveis caminhos dão bases para que os novos teólogos e fiéis
conheçam mais da sua fé e adquiram essa maturidade de forma mais rápida e com
melhor qualidade, creio que Schultz faz isso muito bem em sua tese de doutorado
que apresenta a nebulosa religiosa brasileira presente no atual protestantismo.
Seu texto é um exemplo claro de que é possível fazer teologia sem se deixar
seduzir e enganar por concepções prévias que atrapalham os resultados desejados
nos estudos teológicos.
É notável sua teoria de que Deus
está presente e o diabo está no meio. Essa ideia sintetiza muito bem o que ele
chama de nebulosa religiosa. Não descartando a ideia de que esse mal que está
presente tem causas materiais, o religioso apenas não sabe expressar de forma
didática, por isso, a relevância dos teólogos que colocam em palavras o que é
sensitivo no cotidiano.
Concluo, por fim considerando que os
caminhos para a teologia na contemporaneidade estão abertos ela pode encontra-se
pode ser de grande valia as pessoas se transitar bem nas argumentações
científicas sem esquecer o cotidiano daquele que crê.
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