sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A Psicologia e os desafios dos novos tempos



Sabe-se que a psicologia teve início em meados do século XIX com os estudos paradigmáticos de Freud, inúmeros outros autores inspirados no pensamento freudiano deram segmento aos estudos psicanalíticos. As escolas que foram se formando não foram necessariamente fieis aos escritos desse autor renomado, mas torna-se impossível falar de psicologia sem fazer referência direta a esse autor.
Embora essa disciplina seja relativamente nova, em comparação a outras áreas do conhecimento seus pressupostos são encontrados nos escritos mais remotos dos primeiros filósofos. A preocupação filosófica baseava-se em conhecer o que é o ser humano, mesmos elementos que a psicologia se preocupa. O que ocorre na contemporaneidade é uma emancipação dessa disciplina de grandes áreas do conhecimento.
O fato dessa área ser nova e com inúmeras possibilidades e caminhos não deram aos seus estudiosos a homogeneidade de teorias e métodos. Isso fez com que surgisse ramificações da psicologia com enfoques diversos.
Um exemplo do que estamos tratando aqui pode ser encontrado nos estudos comportamentais. Cito aqui duas teorias que teve a preocupação de explicar por meios científicos porque agimos como agimos e porque não agimos de outro modo. A primeira é a Janela de Johari e a segunda é baseada no Eneagrama dos quatro temperamentos. Embora as explicações para as atitudes humanas sejam diferentes o pressuposto é o mesmo, a saber: entender o gênero humano em sua complexidade.
A psicologia é uma disciplina que teve origens teóricas, no entanto, há uma tendência em reduzi-la somente à técnicas, não servindo a explicação de quem é o ser humano. Na interação entre o profissional da psicologia e os leigos pode ocorrer uma ideia, própria do sistema econômico, que reduz tudo e todos a uma relação profissional-cliente. E o psicólogo deixa de ser um pensador para ser um prestador de serviços. Grosso modo, isso não é ruim, pois faz com que o largo conhecimento produzido nos laboratórios e bibliotecas voltem para a sociedade de maneira positiva. O problema é que os custos de um bom profissional ainda são onerosos e nem todos que precisam tem acessos a esses conhecimentos.
Uma crítica recebida por essa área do conhecimento no Brasil é que ela deixou de ser reflexiva por fechar-se em si. Sem considerar as questões históricas em detrimento do biológico ficando totalmente passiva diante dos acontecimentos políticos. Pensadores que fazem essas considerações geralmente são de tendências marxistas, e consideram a atual psicologia como ferramenta de manipulação do capital, engrenagem do sistema. Essa interpretação é no mínimo simplista quanto ao que de fato ocorre nos estudos científicos no Brasil.
Um grande problema nos estudos acadêmicos é que associa-se senso crítico com o pensamento de marxistas ortodoxos, que tomaram a cadeira de críticos sociais e não aceitam pensamentos divergentes também como bons.
É compreensivo o grande teor do pensamento marxista em alguns desses textos, pois estes autores estão lutando contra o conceito de que as ideias valem por si e os autores e teóricos da psicologia que desconsideram os quadros sociais na interpretação da explicação da razão de uma teoria.
A sistematização da psicologia enquanto área de conhecimento científico ocorre de modo tardio, conforme apontamos no início dessa redação, no entanto, não significa que deva haver uma minoração de sua área de conhecimento perante aquelas que são mais antigas.
O que ocorria no século XIX que potencializou o surgimento dessa área do conhecimento? Tenho a intuição de que a acentuação nas individualidades, típicas da modernidade foi um dos motivos para a preocupação dos estudos do psicológico, a segunda intuição é que antigas respostas aos comportamentos que outrora tinham explicações mitológicas tais como histeria, possessão dentre outros, necessitaram de novas respostas.
Interessante apontar que reações emocionais não operam somente no cérebro, mas principalmente nas questões fisiológicas, as reações que operam no nosso corpo fazem com que emoções ocorram, não são somente coisas da alma ou do espírito. Essa foi uma das grandes contribuições da psicologia para fugir das antigas explicações míticas.

Concluo, portanto que os desafios para os profissionais dessa área ainda são muitos e que os mesmos não conseguiram a superação desses problemas se privilegiarem apenas uma área do aspecto humano, um resgate a interdisciplinaridade das ciências humanas pode ser positiva nas novas contribuições da psicologia e seus novos questionamentos no presente século.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A teologia nos entre caminhos da fé e razão



Ao se discutir, nos dias de hoje, sobre uma área de conhecimento é praticamente impossível excluir os critérios da razão científica que ganharam formas e contornos após o renascimento. Atualmente vive-se debaixo dos paradigmas científicos que afirmam os valores da modernidade no que diz respeito ao conhecimento. Esses critérios dialogam-se em absoluto com a teologia, ora em sua afirmação e ora em sua negação, ao menos essa é a impressão que se tem quando olha-se mais detidamente àquela teologia que procura ser confessional e defensora de dogmas.
Em muitos casos pretende-se, com o saber teológico, defender a religião e para isso se apropriam de ferramentas científicas que cooperam com esses fins. Esse jogo, do qual esboçamos aqui diz respeito a duas questões simples: a primeira devido a teologia não ser mais hegemônica como era outrora tendo a última palavra nos quesitos da verdade, e a segunda por, a princípio, tratar de temas que são metafísicos a priori, resultando assim em dicotomias de pensamentos. Outra questão, mais ligada a teologia cristã é que seu objeto de estudo (Deus) não pode ser provado por definição – no momento em que prova-lo deixa de ser Deus – o que torna-se um problema para a teologia se seu desejo é mostrar por critérios científicos Sua existência.
Como entender, portanto, uma área de conhecimento que carece da fé como motivadora de ação e que tem relevância social em período que o cientificismo torna-se critério último? Creio que encontramos aqui em um empasse para a teologia nos tempos hodiernos entre a fé e a razão.
A teologia sistemática dialoga com essa tendência em muitos de seus pontos, pois é seduzida a explicar Deus e dogmas através de critérios científicos ou filosóficos mas que comumente são aceitos por simples atos de fé. O empasse em que a teologia se encontra pode ser problemática em seu pressuposto inicial que é dar subsídios aos crentes para suas peregrinações diante do sagrado.
Na verdade, há um medo velado por parte de alguns teólogos em não terem o reconhecimento social de seu trabalho intelectual por abordarem um objeto de estudo que é indefinível a priori. O que está em jogo, portanto, acaba não sendo os resultados das reflexões tidas com o pensamento teológico e sim o status que o teólogo adquire com seu trabalho nos circuitos acadêmicos.
            O oposto também pode ser um problema: a afirmação de que a teologia é apenas revelação e não pode ser abordada por outras ciências abre margens para arbitrariedade do teólogo em suas afirmações doutrinárias. A história do cristianismo está cheia desses exemplos. Ou seja, em nome de uma revelação, poderes políticos e eclesiásticos são reafirmados e por vezes o povo subjugado.
            Nos anos 60 no Brasil e América Latina uma nova forma de se fazer teologia procurou dar respostas a esses paradoxos argumentativos, mas que não foi muito bem aceita em meios mais ortodoxos da igreja, refiro-me à Teologia Latino-Americana da Libertação nos setores católicos e a teologia da Missão Integral nos meios protestantes.
O Padre Uruguaio Juan Luiz Segundo foi um desses pensadores de peso que conseguiu unir o que de melhor a teologia pode oferecer ao povo com a excelência do pensamento reflexivo. Seu trabalho pode ser uma ponta de esperança e exemplo para aqueles que desejam fazer teologia a fim de afirmar crenças e religiosidades na completude da humanidade no diálogo entre fé e razão.
            Outra questão que a teologia deve enfrentar diz respeito aos fundamentalismos e intolerância religiosa que muitas de suas verdades podem ocasionar nos fiéis. De um lado encontram-se certezas que devem ser aceitas para que a vida tenha sentido e do outro está o diferente que pensa completamente o oposto de nós e tem uma teologia e modo de vida que nega por contraposição de termos o eu. Ser teólogo numa situação dessas sem entrar em crises existências e não negando a existência do outro envolve auto grau de maturidade, tanto intelectual quanto de fé.
O pressuposto para se fazer teologia acaba sendo adquirir o direito de (em nome de Deus) reger influência sobre o modo de vida e comportamento das outras pessoas e essa forma de pensar impede que outras tradições religiosas tenham espaço. Sendo esse um dos pilares das guerras santas, tanto do passado quanto dos dias de hoje.
            Nessa redação não pretendo chegar a definições pontuais, conforme já puderam ver, mas tive por objetivo inicial mostrar os atuais desafios que os teólogos, líderes religiosos e fieis têm diante da contemporaneidade.
            Conhecer a historiografia da teologia e seus possíveis caminhos dão bases para que os novos teólogos e fiéis conheçam mais da sua fé e adquiram essa maturidade de forma mais rápida e com melhor qualidade, creio que Schultz faz isso muito bem em sua tese de doutorado que apresenta a nebulosa religiosa brasileira presente no atual protestantismo. Seu texto é um exemplo claro de que é possível fazer teologia sem se deixar seduzir e enganar por concepções prévias que atrapalham os resultados desejados nos estudos teológicos.
            É notável sua teoria de que Deus está presente e o diabo está no meio. Essa ideia sintetiza muito bem o que ele chama de nebulosa religiosa. Não descartando a ideia de que esse mal que está presente tem causas materiais, o religioso apenas não sabe expressar de forma didática, por isso, a relevância dos teólogos que colocam em palavras o que é sensitivo no cotidiano.

            Concluo, por fim considerando que os caminhos para a teologia na contemporaneidade estão abertos ela pode encontra-se pode ser de grande valia as pessoas se transitar bem nas argumentações científicas sem esquecer o cotidiano daquele que crê.