Texto referência: Lucas
Cap. 12: 16-23
O
texto em questão trata-se de uma parábola de Jesus, como todos sabem, as
parábolas servem para mostrar uma verdade superior em relação a história em si,
e, nesse caso é para demonstrar como são as coisas no reino de Deus.
A
parábola era a seguinte: Havia um homem que tinha uma preocupação, trabalhar,
ganhar seu sustento e depois desfrutar dos trabalhos de suas mãos. Chega um
momento em que a sua produção havia sido tão grande que ele não tinha mais onde
colocar os grãos e depois de cogitar dentro de si, pretende ampliar seu celeiro.
Para
a cultura da sua época e também para a de hoje, pode-se dizer que esse homem
foi abençoado por Deus. Havia tanta produção que ele não sabia mais onde
colocar tantos grãos, damos o nome disso de prosperidade.
No
entanto chega um momento em que a Deus o chama de louco e não de “abençoado”,
e, o que é um louco senão alguém que vive por princípios diferentes da nossa
ordem social?
Por
exemplo, dizem que alguém está louco quando começa a rasgar dinheiro, pois em
uma sociedade onde tudo se passa pelo consumo nada mais coerente do que
considerar que quem não o quer seja portador de uma lógica de vida incompatível
com a realidade, em outras palavras: Louco!
Pode
se dizer que Jesus o chama assim, porque sua atitude ética não era compatível
com o Reino de Deus.
No
entanto, se tudo o que ele faz são atitudes que nós, como bons cidadãos,
fazemos para garantir um mínimo de estabilidade familiar, tais como: trabalhar,
poupar, e desfrutar do nosso trabalho, corremos o mesmo risco de recebermos tal
sentença da parte de Cristo, por não estarmos de acordo com o Reino de Deus. Isso
gera certa estranheza, pois associamos viver o mais ético possível como
garantia de alcançar o Reino dos céus.
Quais
portanto são os pecados desse homem? Antes de responder a essa pergunta vamos a
mais algumas questões epistemológicas do texto: A bíblia diz que esta noite quererão a sua alma. Querer a
alma é querer a pneuma, e pneuma fala do ser humano completo, tanto corpo, alma
e espírito.
Logo,
pode-se concluir que só saberemos quem somos depois que tudo o que temos nos
for tirado e sobrar apenas a pneuma. Quem seremos nós quando a nossa única
identidade for somente um número em um necrotério?
As
posses e os bens são apenas legados que deixaremos para a posteridade, mas quem
somos nós, de fato, é o que será exigido quando nos encontrarmos diante de Deus.
Claro
que estamos refletindo sobre uma parábola, mas que revela padrões de vida
estabelecidas por Cristo. Coloco portanto as seguintes perguntas: Existe alguma
coisa pior do que a morte? Sim: Uma vida sem sentido. Existe alguma coisa mais
importante do que a vida? Sim: Uma morte que faça sentido.
Saber que a morte é certa todos sabemos. Mas quais
significados damos a ela? Perguntar sobre o sentido da vida, de onde viemos e
para onde vamos é uma preocupação filosófica que Jesus está levantando ao
ressaltar que todo o trabalho da vida daquele homem não tinha valor diante de
Deus.
A vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar significado
na dor, como dizia um antigo pensador: “Quem tem por que viver pode suportar
quase qualquer como”.
Assim como o destino, o sofrimento também faz parte de
nossa vida, ou seja, se a vida tem um sentido, o sofrimento também o tem. O
padecimento, enquanto necessário, é uma possibilidade de algo pleno de sentido.
Sofrimento desnecessário é sofrimento destituído de sentido, todavia,
sofrimento necessário significa sofrimento permeado de sentido.
A dignidade do homem permanece intacta mesmo depois da
perda da utilidade em razão da desorganização psicofísica da pessoa espiritual.
Da mesma forma que a pessoa espiritual está “atrás” do fato mórbido psicofísico,
igualmente a sua dignidade está “acima” da perda do valor biossocial. Enquanto
não estivermos profundamente convencidos da invulnerabilidade da dignidade
humana, será apenas uma questão de tempo flertarmos com a eutanásia.
Como diz os textos posteriores, a partir do versículo 24
do Cap. 12 de Lucas: “Considerai os corvos, que nem semeiam, nem
segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós
do que as aves?
E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
Se
olharmos de perto, a questão central da vida desse homem não era o cuidado de
sua família. Existe uma denúncia bíblica a respeito de suas atitudes, ele
sempre trata das coisas no pronome pessoal da primeira pessoa do singular (EU).
“Meus celeiros, meus bens, meus grãos”. Isso revela-nos que as coisas que ele
fazia estavam centradas estritamente no seu ego. E o egoísmo é um princípio que
não se encaixa nos padrões do Reino, conforme Jesus deixa como referência em
diversas passagens.
A
bíblia diz que ele arrazoava sobre o que devia fazer diante de tanta
prosperidade. Arrazoar é debater um dilema dentro de si. Ele de fato estava em
conflito por não saber o que fazer, pois em todos seus anos de trabalho isso
nunca havia acontecido: produzido algo mais do que conseguia consumir.
Ele
então faz aquilo que é próprio do ser humano, cogita construir um celeiro maior,
guardar tudo e desfrutar do que possui. A parábola foi para expressar que
apesar do sofrimento humano, a prosperidade é uma dádiva de Deus e todo
controle da existência deve ser igualmente dada a Ele. O propósito dessa
parábola era Jesus mostrar que cuidava dos seus. Mas, também para condenar
aqueles que pensam ter o controle de suas vidas pautadas nas questões materiais
e financeiras. Este foi seu grande pecado.
A
revelação clara desse texto é que ninguém consegue ter o controle total de sua
vida, pois quem detém o domínio é Deus, e sempre haverá questões não projetadas
que nos farão perder o governo de nossa existência. Mas isso não é razão de
fazer com que percamos a essência de Deus em nossas vidas, desde que a nossa
vivência seja de acordo com os padrões do Reino.
O
que Jesus propõe é um espírito de vida que vá além do espírito de nossa época.
Confiando que Deus, da mesma forma que cuida dos pássaros, mesmo estando em
prisões e em gaiolas, pode cuidar de nós, estabelecendo como critério de que a
nossa alma vale mais do que a alma dos pássaros.
Corremos
constantemente o risco de associarmos a busca de felicidade com o quanto de
bens possuímos ou o quanto conquistamos diante dos homens, e exatamente isso
pode ser considerado como trapo de imundícia diante de Deus.
Minha
oração é para que constantemente aprendamos a lidar com os encargos existenciais
e saibamos colocar os valores do Reino de Deus acima dos nosso próprios
valores.
Amém!
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